domingo, 29 de março de 2009

Salmo no Inferno (conflitos)

Como pode haver contrária vontade
Alheia a prórpia vontade?

Ontem, não há muito tempo atraz,
Eu disse para você,
Que podia escrever sobre tudo:
Alegrias, tristezas,
Amor e ódio.
Beleza, política
Ou até por simples alegoria.

Ah! se eu lhe dissesse
Quantas coisas contenho.
E se você realmente quizesse
Ouví-las sem achar nada estranho.

Mas o amor é único fato,
O que se diz é abstrato.
Só consumá-lo no ato
Dá aos espíritos o ar concreto.

Meus olhos desviam, já
Expontaneamente, pelo desejo
Obrigado a reta da visão.
Hora como? Não me pergunta: vá!
Sabe o fogo que lampejo;
Sabe que não há igual atração.

Portanto se
Deixar de lhe amar, não ocorre,
Sabe-se, sobe-se
A contra mão em busca da sorte
Contrário sul; contrário norte;
Contrário àquilo que morre.

A outra mão
Assume a rédea,
Não pega a estrada,
Mantém o caminho
que ladeia.
Cria sem música, calada,
A sua própria canção.
E de muitos lugares que possibilitam
A esporádica relação restrita;
Deixa cada um com seu poder de ilusão.

Mas viram as semanas
Que somam-se em meses
E abrem-se as páginas.
Repletas de imagens,
Com figuras bonitas. As vezes
Realidade estática, conotativas viagens...

E o pão nosso de cada dia
É a certeza da vontade;
É saber que há o que não havia,
Que cresce o sonho da verdade
Em marginal magia.

Então dentro destas horas corridas,
Os ponteiros se perseguem
Em ultrapagens constantes
Nas buscas das idas
Entre as parades em vai e vem
Tendo que aproveitar segundos como eternos instantes.

oh! Quantos passos
Limitados a um caminho
Onde perfeitos devassos
Têm para si a terra em outra rotação
Em uma passagem de tempo
Criado ao próprio contento
Uma agulha alinhavando o linho;
Um Sol na pele, a impossível translação

Ah ontem!
Como a gente fala!
Se voltasse lá atráz
Como seria diferente o ontem,
Estaria ele com a gente em paz?
Aqui na sala?

Assistindo livremente
Àquilo que nos obrigam?
Que coisa linda!
E futuramente
Não haverá aqueles que como nós não digam
Novamente e ainda.

Ah ontem!
Com desviam os passos...
Como eu mesmo disse-lhe ontem
Poder preencher todo o espaço
Entre linhas, deste caderno
Sobre qualquer assunto, oh inferno!

Tudo já muda:
Alegrias, tristezas, amor e ódio,
Beleza, política.
Nada disso ganha mais rimas;
Nada consegue métrica perfeita;
Figura compacta, mantida...

- Conflitos!
É só que vigora.
Nem como alegoria agora,
Porque não há versos bonitos.

Conflitos com a própria sorte
A doada vida;
A perversa morte.
Conflitos com os desejos
Deixados escapar em momentos
Ébrios e loucos,
Conflitos com o prórpio nome,
Que tem de ser conferido
Na identidade, um número,
Papel moeda, que nào vale nada,
Que corrobora a farça

O destino torto
O buraco da realidade
Por onde vasa o sonho
Para um pequeno porto
Sem cais, sem mar, de tom estranho
Nos arrebaldes da cidade:
Atlântida submersa
Entre bastões, leocócitos
Que não combatem os males infectantes...
Hemoglobinas, desbotados como frágeis militantes
Tentando não deixar esta poesia anêmica dispersa

Com um fato contudente
Do político câncer,
Que repete a palavra latente
Reinando na findura do ser;

Um texto como nosso contexto
Fracionado
Corrido e imperfeito.
Uma idéia que tem de
Manter-se limpa
Dentro de tantas outras,
Outras tantas, sujas...

Um laço confuso e desejado
Um "turlível" acre - doce
Um desespero calmo
Um plástico forjado
Um atrazo precoce
Uma vibração petrificada
Uma antártica sem inverno
Um Salmo no Inferno
Oh inferno!

E agora teho de parar de novo
Outra vez e mais uma vez.
Não se consegue sequência.
E para manter a frequência
do contato à tez
A folha é só em disparado disparate alvoroço
De poder estar
De querer estar
Em todas as terras, navegando
Em todos os mares, andando
Nos coitos dos vistos e palpados

Anéis orgáticos
No transplante de corpo
E de espaço
Vence a lei da física
Onde dois corpos
Ocupam o mesmo lugar no espaço.
E um mesmo corpo
Fica em dois lugares
Ao mesmo temp[o
Em busca de se tornar
Um dos felizes
Capaz de transformar
Qualquer triste destino em risonho
Até que a noite permanente
Desça soberana e nos acorde,
Já que viver, não passa
De um venerado
E conturbado
Sonho...

Andre Luiz
Em 18 de julho de 1993

sábado, 28 de março de 2009

E assim se fez (criamos o nosso Mundo)

Um dia vi-lhe de branco;
Em um segundo dia o sorriso franco;
No terceiro o ano do primeiro rebento;
No quarto ano o rebento do complemento;
No quinto um desvio e um delito.
E no sexto o ápice do conflito..
Mas no sétimo descançamos na calma do amor profundo.
E fizemos o Mundo... O nosso Mundo...
Que eu amo...
Amém.

André Luiz
em agum dia de 1989

Poente Deserto

Atropelo, atropelo de passos
De um solitário viajante.
Sorrisos devastados aos olhos desatraentes.
Poucas sombras, nada de pastos.

Frenesi, frenesi de paixões
Refreadas, resfriadas.
Morbidamente encarceradas
Nos castelos das ilusões...

Ribombeia, ribombeia a cancela
Aberta sem deixar-se passar.
Impermeável, invisível barreira a selar
O plausível ato, da virtutde bela...

Cantos, recantos, um bar.
Bebidas, tragos e tragadores...
Parceiros de ciências e mal sabedores
Seguindo oriundos do para o fim do mesmo andar...

Acompanhantes, acompanhantes externos
Por espaços talvez até infindos...
Talvez até com pensamentos lindos.
Mas, como o meu impenetrável
E sem se dar por sondável,
Mesmo se fossem estas vidas, de destinos eternos...

Atropelo, atropelo de passos
De um solitário viajante.
Pois sempre será inesplorada minha mente.
Nunca poderão sentir-me a fundo,
Com eu também nunca a eles neste mundo.
Nem suas sombras; nem seus pastos...

Mas há a morte do Sol no poente.
Que mostra sua sombra e clareia algum pasto...
Sigo para o lado de sua sombra...
Cada pasto apontado pela ponta negra...
Indo enquanto posso,
Caminhando contrário a morte.

André Luiz
em 14 de agosto de 1981

Poeta

O Poeta faz da angustia
A sua Arte.
Levanta as máguas
Aos cimos dos versos.

Ele escreve as tristezas
Pelas alegrias esparsas.
Atravessa uma estrada reta
Através de curvas.

É capaz de sentir
Nas pedras,
De viver
O Mundo das folhas...

De seguir os ventos
Até onde eles vão...
É capaz de tudo;
É capaz da Paz.

Ele olha e vê,
O que mais ninguém vê,
Mesmo de olhos
Totalmente vendados..

O Poeta é de uma real
Realidade tão à cima
Que passa a fictício.
Ele é o auge bravio

Sem fazer bravuras...
Sem fazer um ato grosseiro...

O Poeta é Poeta,
É terra e ar;
Noite e dia;
Lua e Sol...

É a brisa,
Os pingos da chuva;
É o inverno
E o verão...

A mata esguia;
As altas árvores.
É o verde esperança;
O azul celeste...

- A Natureza...

Ele é toda a Terra,
Sua abóbada;
Sua atimosfera...
Este Sistema Solar.

E o Universo
em que ele enconta-se e encontra-nos...

Talves até Deus
Tenha sido Poeta,
Que não foi claramente
Entendido e seguido ao pé.
Mas que ainda
Conseguiu deixar
Um pequeno ar de Poesia
Em tudo que criou...

Já que a Poesia
É fantasia..
Um tom de tristeza
Na aparente alegria...

É Deus foi Poeta.
E o Poeta não é Deus...
É só Gente criatura...
Criada por Deus
Em osso e pele...

O deslumbre
Puro...
Água da fonte...
Em seu veio lindo...

Do meigo sentimento...

O Poeta é tudo...
Tudo o que eu não sou.

André Luiz
em 04 de dezembro de 1980

sexta-feira, 6 de março de 2009

São seis horas da tarde

I
São seis horas da tarde...
O primeiro sinal
Do crepúsculo.
A parte indecisa?
Do dia ou da noite?
Ainda não sei bem...
Não sei se é o dia
Que luta para
Não deixar a noite entrar
Ou se é mesmo a noite
Que vacila, se entra ou não.

São seis horas da tarde.
E os passarinhos
Se recolhem nas árvores
Que estão paradas,
Pois vento não há.
Tudo parece combinar:
O vento não sopra
Para a árvore não balançar.
E não espantar os passarinhos.

São seis horas da tade.
A Lua já está o céu...
Mas apenas em um quarto.
Talvez ela não queira
Atrapalhar com sua luz,
A grande indecisão da noite
Para o final do dia.

São seis horas da tarde.
E o gigante de pedra
Parece dormir na sombra,
Sem precisar trocar
A posição de quando parece
Estar acordado sob o Sol.
Pois de uma forma ou de outra
É sempre deitado que se encontra,
Em seu puro leito eterno
Até que o homem os espare...

II

São seis horas da tarde.
Nós andando de mãos dadas,
De baixo do céu e da quietude.

Olhando o crepúsculo,
Os passarinhos se recolhendo;
A lua em seu pedaço minúsculo.

O gigante de pedra dormindo,
No leito da natureza;
Na noite que vai surgindo.

É tudo belo e sem vaidade;
É tudo supremo e sem côrte.
Nesta paralização sem morte,
As seis horas da tarde...

O cimo da bonança
Em nossa linda relação,
Que levo e levarei vivo na lembrança...
Enquanto bater o meu ocoração...

André Luiz
em 11/11/1980

Momentâneo

Momentâneo 21/07/2008

As seis horas os Canários cantam.
Livres em nosso quintal.
Entre outros pássaros
Que aqui ainda vivem soltos,
Revoando sem mal,
Indo em qualquer direção que resolvam.

Nestes tempos, confesso:
Não consigo receber em profundidade
Toda esta toada orquestrada
Nesta sinfonia matutina bem moldada
Por este compositor, esta sumidade
Que nos deu esta natureza sem preço.

Desculpas! Peço então
Aos canários e outros encantadores cantadores:
Andorinhas, Bem te vis, Anús, Cambaxirras e Pardais,
Sanhaços, até Gaviões, Corujas e muito mais...
Perdão a pureza que perco com as minhas dores
Dores que voltam e afinam a crueza do meu coração...

André Luiz

Para sempre sempre....

Para sempre sempre....

Olhe para o mar
E venha caminhar
Na areia
Fazer a seia
Por uma noite e meia
De marés ao luar

De marés cheias
De nossos belos instantes
De ondas fortes sem vazantes

Venha para paz
Desta guerra
À silhueta da serra

Repousar adormecidamente bela
Perfurada pelo fuso
Deste tear de folhas
Trançadas ao belo tecido
Que sombreiam nossa prole
Que forma as nossas peles.

Íntimas de nossos mundos
Íntimas de nossos sonhos
Íntimas de.nossas idas
E vindas sem ir e sem vir.

Se jogando e se recolhendo
Empurrando e puxando
Arrazando e aprofundando
O nível de nossas superfícies
Em outras águas
Deste mesmo mar

Banhando as mesmas areias
Que em outros tempos
Eram uma era de outras terras

E neste tempo este agora
Destes dias turbulentos
Que diz temerosos
E neste amor
Que diz até resumido
Não vejo nada
Que seja menos que o eterno
não vejo nada
Que seja menos que infinito

Nada menos que o universo
Nada menos que um verso
Que irá resumir todos os sonhos em um sono
Então temido quando não se ama
Mas tão fácil quando sabemos
Que em qualquer forma física ou ânima
Teremos o amor para garantir o nosso reencontro
Para estarmos um ao lado do outro sempre sempre
Para sempre...


André Luiz